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Jovem com deficiência auditiva vira maestrina de orquestra em Jacareí

Compartilhe essa notícia! | Data : quarta-feira, janeiro 20, 2016 | Series :
A precisão nas notas e a atenção nas partituras resultam em uma música contagiante. Mas quem escuta Carolina Araújo, de Santa Branca, regendo uma orquestra inteira nem imagina que a maneira como ela interpreta o som é completamente diferente dos demais.


Apesar do grave grau de surdez, a jovem de 19 anos também toca flauta transversal, trompete, violão e guitarra, estuda música e, no fim deste, ano irá reger a Orquestra Sinfônica de Jacareí em Londres, na Inglaterra.

Carolina começou a perder a audição gradativamente aos cinco anos de idade. Atualmente, ela possui uma perda profunda no ouvido direito, com apenas 15% da capacidade auditiva. No esquerdo, o dano é de mais da metade.

Carol é apaixonada pelo universo musical desde criança. Segundo ela, a influência vem dos primos, que sempre se juntavam para se divertirem com instrumentos. Até na programação infantil a música estava presente. “Eu gostava de assistir os filmes da Disney, porque na maioria dos desenhos tinha música clássica. Algumas vezes aparecia até uma orquestra com um homem regendo, o que me fazia sonhar em ser uma maestrina”, conta.

A menina, porém, teve logo na infância a notícia de que estava ficando surda. Mesmo após algumas cirurgias nos ouvidos e 14 anos de tratamento, ela confessa que escuta pouca coisa. Carolina percebeu que sentia vibrações em seu corpo quando tocava instrumentos ou assistia concertos. Sem entender a sensação, ela foi apresentada a Viviane Louro, professora de música na Fundação da Artes de São Caetano do Sul (Fascs).

Além de reger, Carolina toca flauta transversal,

tropete, violão e guitarra (Foto: Arquivo Pessoal)

“No direito eu perdi praticamente tudo. A da esquerda é flutuante, nos dias mais difíceis eu não escuto nem minha própria voz. Comecei então a ter essas sensações, mas achava que era coisa da minha cabeça. Me levaram até a professora Viviane Louro, que cuida de um projeto para inclusão de deficientes no mundo da música. Foi ela quem me explicou que os surdos sentem isso, que é normal. Cada som, cada nota tem uma vibração diferente”, explica.

Viviane, inclusive, ficou tão impressionada com a história da garota que levou ela a um teste na Fascs, onde foi aprovada para iniciar os estudos na instituição. “A inclusão na arte está crescendo, mas ainda é pouco vista por muitos motivos: preconceito, desinformação, visão assistencialista do trabalho com deficientes... Tudo isso afasta as atividades artísticas de quem tem deficiência”, comenta a professora.

Junto com a nova escola, 2016 traz mais uma oportunidade especial para o currículo de Carol: a Orquestra Sinfônica de Jacareí, onde ela estudou no ano passado, foi convidada para se apresentar no London New Year’s Day Parade, a celebração cívica de ano novo na capital inglesa.

O evento é uma tradição londrina e recebe grupos musicais do mundo inteiro. É a chance da jovem maestrina, que há alguns anos não sabia sequer se conseguiria tocar um instrumento, reger em um evento internacional.

“Vivemos em um mundo onde uma surda que rege ou toca de pés descalço é novidade. Mas minha maneira de escutar a música é totalmente diferente. Costumo dizer que precisamos sentir a música. Ela está em todo lugar, só precisamos sentir", disse.

Fonte: G1

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