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Caso da Professora e do menino surdocego e implantado

Compartilhe essa notícia! | Data : quarta-feira, fevereiro 24, 2016 | Series :
Olhando meus arquivos e anotações, encontrei um comentário de Fernando Capovilla sobre um caso de uma professora que se angustiava pelo seu aluno que era surdocego implantado. Acompanhe a baixo:
Comentando rapidamente uma breve e angustiada pergunta de professora, sobre um menino surdocego de 7 anos e implantado, que parece estar sentindo dores e que tem estado agressivo com seus colegas este ano: "É muito difícil dizer assim a partir de descrição genérica. Agressividade pode ser sinal de desconforto devido à necessidade de ajuste dos parâmetros do implante (a equipe clínica deve ser informada) e/ou a outros fatores como as mudanças no ambiente com muitos colegas (nenhum dos quais usa Libras tátil) a quem ela não entende e com quem não consegue se fazer entender, e a frustração por, diante dessa sobre estimulação algo errática da sala de aula coletiva (com crianças muito diferentes dela), não ter repertório comunicativo para lidar com isso. É possível que ele tenha falta de repertório comunicativo e que esteja reagindo negativamente à continuidade da falta de ambiente apropriado para desenvolver esse repertório. Ele pode estar sentindo falta de atenção às suas manifestações de desconforto e às suas necessidades comunicativas. É essencial que ele aprenda a se comunicar, a fazer-se entender e a entender os demais. Há quanto tempo recebeu o implante? Está em programa intensivo de reabilitação auditiva com fonoaudiólogos? Há quanto tempo tem contato com Libras tátil? (inserção em comunidade sinalizadora)? Qual é o vocabulário em Libras (tanto receptivo por tato quanto o expressivo)? Ele consegue satisfazer suas necessidades comunicativas? Ele precisa de atenção individualizada e intensiva para desenvolver habilidades comunicativas. É preciso investir na relação individualizada no AEE para construir relação pessoal de confiança e cooperação e para, então, construir nele repertório comunicativo. Encontrando meios eficazes de se comunicar, a agressividade diminuirá. Esse repertório comunicativo é condição necessária para iniciar o desenvolvimento de comportamento social adequado. Só a partir desse repertório construido de modo sistemático intensivo em relação terapêutica e educacional individualizada no AEE (entre professor e aluno-alvo, e entre coleguinha voluntário e aluno-alvo) é que será possível dar início à escolarização proprriamente dita, mas essa também deverá começar de modo individualizado. Só a partir de um determinado ponto desse desenvolvimento é que a escolarização em situação coletiva terá boas chances de sucesso. Para ele, o AEE é mais importante no momento que a sala coletiva, pois precisa da atenção individualizada do AEE para adquirir repertório para se comunicar na sala. Desenvolvido esse repertório, pode ser instituído um sistema de tutoria por crianças mais adiantadas e que se disponham a ajudá-lo. Pode ser criança ajudante que deseje ser professor(a) quando crescer. Como sua sala é mista com crianças surdas dos 4 aos 9 anos, converse, de modo mais íntimo e pessoal, com suas crianças surdas um pouco mais maduras. Haveria dentre elas algumas que desejem ser professora? Que tal convidar algumas delas, as mais maduras, a ajudar você? Elas podem servir de ponte de socialização, ajudando a instituir um sistema de ajudantes mirins (peers) que farão uso de Libras tátil para acolher essa criança surdocega e outras crianças. Essas crianças tutoras podem receber incentivo para para participar como voluntárias no AEE aprendendo a se comunicar por sinalização tátil com crianças surdocegas. Elas podem receber distinções de honra ao mérito no final do ano por fazê-lo. A escola estaria formando não apenas alunos, mas cidadãos plenos. Poderia ser criado também um sistema de distinções (homenagem da direção, da secretaria de educação), oportunidades educacionais, livros e outras honrarias por participar desse programa. Essas crianças ajudantes poderiam ser homenageadas em cerimônias públicas em presença dos pais a cada semestre e receber medalha de honra ao mérito educacional, uma espécie de medalha educador mirim. A auto-estima de todos subiria. A escola poderia atrair a atenção da municipalidade e então canalizá-la para suas crianças. Crise pode ser uma oportunidade em gestação. Essas são apenas algumas ideias escritas num brainstorming de 3 minutos com o objetivo de despertar em você ideias ainda melhores. Estou torcendo pelas suas crianças, por esse menino muito especial, por todos os seus coleguinhas, e por você. Volto ao trabalho agora, mas meus pensamentos estarão com você. Abraço amigo."

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