Todos dizem que um bom músico tem de ter
um bom ouvido. Nada mais discutível. Músicos como Eric Clapton, Sting,
The Edge, Pete Townshend e Phil PCollins, entre muitos outros, famosos
ou não, padecem de um mal excruciante chamado tinnitus. Trata-se do
zumbido no ouvido, que muitas vezes pode levar à surdez. É como ter uma
cigarra dentro da cabeça cantando todo dia, o dia todo. Causas? Podem
ser muitas, mas a exposição a altas fontes de som é uma delas. Cura? Não
tem. O bom é baixar o volume dos fones e dos amplificadores. E o alerta
vale para todos.
Eles pouco ouvem. Ou melhor, ouvem: um torturante zumbido. O
tempo todo. Um infindável ruído nos ouvidos, dentro da cabeça, que torna
sua qualidade de vida perto do miserável. Quase todos são músicos e
famosos. Eric Clapton, Eric Johnson, Pete Townshend, Phil Collins, Jeff
Beck, Neil Young, Noel Gallagher, Ozzy Osbourne e tantos outros. Todos
passaram anos e anos fazendo (e ouvindo) música em altíssimo volume, em
estúdios ou em shows. Hoje têm importantes perdas auditivas. Talvez até
fiquem surdos. Novos Beethovens.
“Rosnar e estalar” – Ludwig van Beethoven, o genial
compositor alemão, nasceu em Bonn, em dezembro de 1770. Viveu 56 anos,
e, desde os 26 ou 28, passou a ser atormentado por um zumbido
nos ouvidos, que progrediu para uma surdez impiedosa. Seu sofrimento
pode ser percebido com clareza a partir de uma carta que escreveu ao
amigo e médico Franz Gerhard Wegelr, em junho de 1801, portanto, aos 31
anos. Vale a pena reproduzir dois trechos dessa correspondência.
“Você tem tido notícia da minha situação? Os meus ouvidos nos
últimos três anos estão cada vez mais fracos. Frank, o diretor do
Hospital de Viena, procurou retonificar meu organismo com tônicos e meus
ouvidos, com óleo de Mandorle. Não houve nenhum efeito. A surdez ficou
ainda pior. Depois, um asno de um médico me aconselhou tomar banhos
frios, o que me levou a ter dores fortes. Outro médico me aconselhou
banhos rápidos no Danúbio. Todavia, a surdez persiste. As orelhas
continuam a rosnar e estalar dia e noite. Te confesso que estou vivendo
uma vida bem miserável. Há quase 2 anos me afastei de todas as
atividades sociais, principalmente porque me é impossível dizer para as
pessoas: Sou surdo!”
E prosseguia:
“Se minha profissão fosse outra, talvez poderia me adaptar à
minha doença, mas no meu caso a surdez representa um terrível obstáculo.
E se os meus inimigos vierem a saber? O que falarão por aí? Para te dar
uma ideia desta estranha surdez, no teatro eu tenho de me colocar muito
perto da orquestra para entender as palavras dos atores. A uma certa
distância não consigo ouvir os sons agudos dos instrumentos e do canto.
Surpreendentemente, nas conversas com as pessoas, muitos não notaram
minha surdez. Acreditam que eu sou distraído. Muitas vezes posso ouvir o
som da voz, mas não entendo as palavras. Mas se alguém grita eu não
suporto! O doutor Vering me disse que certamente meu ouvido melhorará.
Se isso não for possível, tenho momentos em que penso que sou a mais
infeliz criatura de Deus”.
“Audição arruinada” – Muito tempo depois, o
depoimento sucinto de Eric Clapton não difere muito em dramaticidade do
de Beethoven: “Minha audição está arruinada. Se paro para escutar, ouço
uma espécie de assovio constante em meu ouvido. Provavelmente, toquei
muito tempo diante de amplificadores com 100 watts de potência. Foi uma
loucura”.
Ouça Eric Clapton tocando Cocaine a todo volume:
Além da genialidade, o que esses músicos têm em comum? Eles sofrem de uma doença chamada tinnitus.
E não apenas eles, mas cerca de 17% da população mundial. Desse total,
20% podem desenvolver a forma mais severa e progressiva da
moléstia, muitas vezes com irreversível perda da audição. Não é regra,
mas músicos estão entre os mais afetados. Pesquisas com músicos de
orquestras sinfônicas mostram que dentre os instrumentos de maior risco
para a audição estão os metais, os de madeira e a percussão, com níveis
de até 100,6 decibéis, equivalentes ao barulho feito por uma britadeira
ou pela bateria de uma escola de samba.
Muitas causas – Claro, este não é um blog sobre
medicina e saúde e qualquer aventura nesse campo pode levar a erros
grosseiros. O fato, porém, é que impressiona o número de músicos que se
queixam de zumbido nos ouvidos, já que uma das causas do tinnitus seria mesmo a exposição prolongada a altos níveis de ruídos. Também não significa que todos os músicos terão tinnitus
e ficarão surdos. A doença (que para alguns médicos é apenas o sintoma
de algum outro mal) pode ter várias causas, entre elas o estresse,
desvios de coluna, alterações cardiovasculares, diabetes, disfunções da
articulação da mandíbula e consumo excessivo de cafeína, álcool e
tabaco.
Ouça Phil Collins: zumbido nos ouvidos obrigou o cantor a parar de se apresentar.
De volta aos músicos, o tinnitus é responsável por baixas no
meio artístico e é uma das causas da já anunciada aposentadoria de
Clapton. Phill Collins é outro que parou de se apresentar em razão do
mesmo problema. Collins teve importante perda auditiva em seu ouvido
esquerdo e os médicos recomendaram cautela, caso contrário ele perderia
totalmente a audição. “O zumbido foi a coisa mais alta que já ouvi na
minha vida”, disse o músico.
Veja Eric Johnson, um virtuoso da guitarra, quase surdo, que toca com um “paredão” de amplificadores.
“Quinto beatle” – Pete Townshend, do The Who, sofre
de surdez parcial e desde 1989 trabalha para manter a Hearing Education
and Awareness for Rockers (HEAR), uma organização que divulga a
prevenção de distúrbios auditivos entre músicos. Ao mesmo tempo, foi
buscar alívio em tratamentos alternativos e naturais. Eric Johnson
passou a tocar com protetores auriculares para não agravar sua doença.
O produtor George Martin, o “quinto beatle”, é outro que foi forçado a
retirar-se dos estúdios, uma vez que sua audição afetada pelo tinnitus prejudicaria a qualidade de seu trabalho. Jeff Beck, lendário guitarrista do Yardbirds, admite que tem uma forma particular de tinnitus
no ouvido esquerdo, que lhe causa, além do zumbido, muita dor. A lista é
enorme e envolve nomes como o do guitarrista The Edge (do U2), Sting
e Al Di Meola. O ex-beatle George Harrison também desenvolveu problemas
de audição.
Risco aos fãs – O som em alto volume não afeta
apenas os artistas. Os fãs que vão aos shows correm os mesmos riscos e o
caso prático mais claro é o da cantora escocesa KT Tunstall. Em 2008,
aos 33 anos, ela sentiu os primeiros sintomas do tinnitus e
credita o zumbido constante nos ouvidos a um show das Spice Girls.
“Fiquei muito perto dos alto-falantes. No início, eu não sabia o que
era. Só esperava que aquilo tudo fosse embora, mas não foi e o zumbido
passou a me enlouquecer”, disse. Como ouvir ou não ouvir também é a
questão, não importa estar no palco ou na plateia. Todos correm os
mesmos riscos e o importante é proteger-se. Volume mais baixo e
protetores auriculares não fazem mal a ninguém.
Fonte: Blog Sonoridades