quarta-feira

Grandes nomes. Grandes Contribuições. #02

Compartilhe essa notícia! | Data : quarta-feira, julho 13, 2011 | Series :

 Mariane Stumpf

IDENTIFICAÇÃO:

Nome:  Marianne Rossi Stumpf
Cidade: Florianópolis
Estado: Santa Catarina
País: Brasil
Formação:  Doutora de Informática na Educação
Profissão: Professora Adjunta
Local de Trabalho:  Universidade Federal de Santa Catariana – UFSC
Locais de Estudo:  Universidade Federal de Rio Grande do Sul
Contatos:  Coordenação do Curso de Letras Libras da UFSC


 Nasceu surda? Pode contar um pouco como foi sua infância, adolescência e juventude?

Fiquei surda mais ou menos aos 9 meses de idade.  Tinha febre sem diagnóstico certo, tomei muito antibiótico e perdi audição. Minha infância sempre feliz, aproveitei muitas oportunidades e alguns momentos foram difíceis. Faltava boa comunicação na família. Era difícil encontrar boa escola, difícil a aprendizagem do português e faltavam  informações sobre área de surdez. Frequentei muitas aulas de “fono” (Fonoaudiologia), brincava com os surdos e inventávamos os gestos para comunicar. Na época a Libras não tinha importância, não era como hoje, que temos a valorização da Libras.

 Em quais escolas e universidades estudou?

Troquei muitas escolas, pois segui o meu pai que trabalhou em vários países. Algumas escolas de surdos e outras não. Adorava aprender outras línguas e culturas do país. Tive muitos colegas surdos nas escolas. A escola que freqüentei mais tempo foi a última, onde me formei no ensino médio. Chamava-se Escola Especial Concórdia em Porto Alegre. Entrei na Universidade Luterana do Brasil, que estava ligada a Escola e conhecia um pouco sobre surdos. Conclui o Curso de Informática e trabalhava como bolsista com professor Rocha, que explorava o sistema SignWriting na Faculdade Católica (PUC) de Porto Alegre. Continuei pesquisando a escrita de sinais no meu doutorado, que foi feito na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Desde quando usa a Língua Brasileira de Sinais (Libras)?

Desde criança, usava os gestos com os meus irmãos em casa e assim falava com a minha família. Um pouco antes dos dez anos, tive contato com a língua de sinais na Escola  Helen Keller em Caxias do Sul, onde havia adultos surdos. Depois da entrada na Escola Concórdia, vivia atrás dos adultos surdos, que comunicavam com sinais lindos. Comecei a participar do esporte, dos cultos, dançava no grupo de folclore (dança gaúcha) com os surdos. Cada dia aprendo novos sinais, até hoje, no Curso de Letras Libras.

 Como se comunica com familiares, amigos e o público em geral?

Depende da pessoa com quem me comunico, se ela entende como é a pessoa surda e se sabe sinalizar.  Geralmente nos lugares onde não sinalizam escrevo um bilhete, às vezes, uso fala com frases curtas, fazendo um pedido bem simples. Com a família, principalmente com a minha mãe, a comunicação é cordial vêm do umbigo, pois ela foi professora de surdos. Também, com os irmãos comunico bem. Com meu pai, às vezes, temos má comunicação.

O que a Libras significa para você?

É grande minha felicidade, que temos Libras no Brasil. É a língua natural dos surdos, a língua materna, que pode comunicar como qualquer outra língua. Significa muito, é crucial ter Libras para construir, imaginar, refletir, planejar, aprender… Acesso pleno a uma língua.

Pode contar um pouco sobre o seu trabalho? 
Quais são seus novos projetos?

Hoje, ministro a disciplina de escrita de sinais para licenciatura e bacharelado e oriento os alunos mestrandos. Coordeno o Curso de Letras Libras a distancia na UFSC.  Aproveito a oportunidade e felicito as turmas de 2006, que estão formados este ano. Daqui para frente os formados serão responsáveis pela evolução na Educação de Surdos.  E, em meus novos projetos, estou trabalhando junto aos professores da Universidade Gallaudet de Washington, com os Profs. Gaurav Mithur e Gene Mirus.  E estamos implantando o Curso online de língua de sinais internacional. Porque acreditamos que a língua de sinais internacional é uma língua exótica, que pode possibilitar a comunicação com os surdos estrangeiros, como já é usada nos Congressos da Federação Mundial de Surdos e outros eventos internacionais. Buscamos quais as estruturas da língua de sinais internacional e ainda temos pouca pesquisa no mundo sobre ela, que surgiu como um pidgin entre surdos de países diferentes e foi se firmando.

O que você faz para se divertir ou se distrair?

Gosto de viajar, e me atraem as novas culturas e as línguas dos diferentes países. Aqui, saio com os amigos surdos. Fazemos programas como fazem os ouvintes: jantares, cinemas, praia etc…

Quais são seus planos para o futuro?

Gostaria de fazer um pós- doutorado, mas ainda não sei quando. Estou me preparando para ir à África do Sul, ao Congresso da Federação Mundial de Surdos. É um novo desafio. Lá, junto à outra especialista, vou ser coordenadora da mesa sobre educação. Já selecionamos os trabalhos que vão ser apresentados. Eram muitos e tive pena de não podermos apreciar todos.

 Você é uma pessoa feliz? Por quê?

Fico feliz quando vejo que a Libras está crescendo no Brasil, as pesquisas aumentaram, as pessoas estão querendo aprender e muitas acreditam nela.  Na vida pessoal faço as coisas que gosto e fico feliz.


MARIANNE E A SIGNWRITING:
Vamos, então ao capítulo do SignWriting no Brasil. No ano de 1996, a PUC do RS em Porto Alegre através do Dr. Antonio Carlos da Rocha Costa descobriu o SignWriting enquanto sistema escrito de sinais usado através do computador. A partir disso, SignWriting começou a tomar forma no Brasil. O Dr. Rocha formou um grupo de trabalho envolvendo especialmente a Prof. Marianne Stumpf e a Prof. Marcia Borba. Marianne é surda, professora na área de computação na Escola Especial Concórdia. Atualmente, ela está trabalhando com o SignWriting em algumas turmas. A Escola Especial Concórdia tem apoiado o desenvolvimento do SignWriting, pois tem considerado ser uma forma de escrever a língua de sinais. Marcia tem se envolvido com a parte de pesquisa relacionada à computação. Tive oportunidade de contatar Leonardo Mahler, um de seus alunos, que está desenvolvendo um softer juntamente com um grupo para acessar o dicionário do SignWriting. Temos certeza que do Departamento de Informática da PUC do RS teremos bons frutos do desenvolvimento desse sistema escrito no Brasil. O Dr. Rocha continua apoiando esse processo com muita dedicação.
O projeto de alfabetização está se constituindo a partir de contato estabelecido com Valerie Sutton durante minha estada nos Estados Unidos. Enquanto pesquisava a estrutura da língua brasileira de sinais - LIBRAS - e estudava as teorias que serviriam de base para minha tese, mantive contato intenso com Valerie Sutton discutindo sobre as formas de expressar a escrita e possibilidades de ter seu apoio no desenvolvimento do projeto para o Brasil. Valerie sempre foi bastante prestativa e eficiente. Ela gentilmente aceitou dar o suporte que necessitamos. Atualmente, estamos trabalhando na produção de estórias e na composição do dicionário bilíngüe, ou seja, sinal na LIBRAS e palavra em português. Esse é um trabalho interminável, pois quantidade é muito importante, além da qualidade, é claro. Tenho certeza que aos poucos teremos mais e mais escritores para colaborar neste processo e esperamos contar com suporte financeiro no Brasil para obtermos recursos para produção da estórias. Essa etapa é muito importante, pois a escrita se torna viva quando ela realmente existe. Quando os autores dessa escrita começam a produzir textos e a ler outros textos, essa escrita se torna algo significativo e passa a desempenhar um papel no processo de aquisição da escrita.
No Brasil, temos boas perspectivas de dar continuidade a esse processo, uma vez que algumas escolas começam a se interessar e buscar conhecer tal sistema. A Escola Especial Concórdia de Porto Alegre e a Escola Hellen Keller de Caxias do Sul/RS já começaram a aprender como escrever a LIBRAS. Esse é um passo que tende a ser trilhado por muitas outras escolas. Instituto Nacional de Educação de Surdos no Rio de Janeiro e algumas escolas em São Paulo começam a se interessar por SignWriting. A Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos demosntra curiosidade. Esse é o processo!!
Tenho mantido contato com a Dr. Eulália Fernandez da UERJ e com a Dr. Regina Maria de Souza da UNICAMP sobre educação de surdos, comunidade surda e alfabetização. Nestes contatos, temos conversado sobre a possibilidade de implementação do projeto de alfabetização com o SignWriting e temos algumas luzes dispontando no caminho.
O Projeto de Alfabetização é uma porta para a aquisição da escrita da LIBRAS que servirá de suporte para um processo de aquisição do português escrito.

Vídeo com Marianne:


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Fontes: http://editora-arara-azul.com.br/novoeaa/revista/?p=544
http://www.signwriting.org/library/history/hist010.html

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