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História dos Surdos

Compartilhe essa notícia! | Data : segunda-feira, junho 20, 2011 | Series :
História dos surdos
O filósofo grego Sócrates perguntou ao seu discípulo Hermógenes: “Suponha que nós não tenhamos voz ou língua, e queiramos indicar objetos um ao outro. Não deveríamos nós, como os surdos-mudos, fazer sinais com as mãos, a cabeça e o resto do corpo?” Hermógenes respondeu: “Como poderia ser de outra maneira, Sócrates?” (Cratylus de Plato, discípulo e cronista, 368 a.C.).
Idade Média
- Os surdos eram sujeitos estranhos e objetos de curiosidades da sociedade;
- Aos surdos era proibido receberem a comunhão;
- Também existiam leis que proibiam os surdos de receberem heranças, de votar e, enfim, de usufruírem de todos os direitos como cidadãos.
Idade Moderna

- O monge beneditino Pedro Ponce de Leon (1510- 1584), defendeu o direito à herança.
- Fray de Melchor Yebra, de Madrid, escreveu livro chamado “Refugium Infirmorum”, que descreve e ilustra o alfabeto manual da época.

Samuel Heinicke (1729-1790), “Pai do Método Alemão” – Oralismo puro – iniciou as bases da filosofia oralista, onde um grande valor era atribuído somente à fala, na Alemanha.
Em 1778 - Fundou a primeira escola de oralismo puro em Leipzig, inicialmente a sua escola tinha 9 alunos surdos.
Idade Contemporânea até hoje

Abade Charles Michel de L’Epée (1712-1789), em Paris conheceu duas irmãs gêmeas surdas que se comunicavam através de sinais, iniciou e manteve contato com os surdos carentes e humildes, procurando aprender seu meio de comunicação e levar a efeito os primeiros estudos sérios sobre a língua de sinais.
Fundou a primeira escola pública para os surdos “Instituto para Jovens Surdos e Mudos de Paris” e ensinou inúmeros professores para surdos.
Em 1789 Abade Charles Michel de L’Epée morre.
Na ocasião de sua morte, ele já tinha fundado 21 escolas para surdos na França e na Europa.

Em 1802 nos Estados Unidos, Jean Marc Itard, afirmava que o surdo podia ser treinado para ouvir palavras, ele foi o responsável pelo clássico trabalho com Victor, o “garoto selvagem” (o menino que foi encontrado vivendo junto com os lobos na floresta de Aveyron, no sul da França).

Filme: “O garoto selvagem”.
É um filme francês de 1970, do gênero drama, dirigido por François Truffaut e baseado em livro de Jean Itard, um médico francês que se torna responsável pela educação de uma criança selvagem.

Em Hartford, nos Estados unidos, Thomas Hopkins Gallaudet (1787-1851).
Em 1864 foi fundada a primeira universidade nacional para surdos “Universidade Gallaudet” em Washington – Estados Unidos, um sonho de Thomas Hopkins Gallaudet realizado pelo filho do mesmo, Edward Miner Gallaudet (1837-1917).

“Universidade Gallaudet” em Washington – Estados Unidos.


Professor surdo Laurent Clerc, melhor aluno do “Instituto Nacional para Surdos Mudos”, de Paris;

Fundaram em Hartford, 15 de abril, a primeira escola permanente para surdos nos Estados Unidos, “Asilo de Connecticut para Educação e Ensino de pessoas Surdas e Mudas”.


Alexander Melville Bell (1847-1922)
Professor de surdos, o pai do célebre inventor de telefone Alexander Grahan Bell, inventou um código de símbolos chamado “Fala vísivel” ou “Linguagem vísivel”, sistema que utilizava desenhos dos lábios, garganta, língua, dentes e palato, para que os surdos repetissem os movimentos e os sons indicados pelo professor.

Em 1855 Eduardo Huet, como professor surdo, com experiência de mestrado e cursos em Paris, chega ao Brasil sob beneplácido do imperador D.Pedro II, com a intenção de abrir uma escola para pessoas surdas.
Em 1857 foi fundada a primeira escola para surdos no Rio de Janeiro – Brasil, o “Imperial Instituto dos Surdos-Mudos”, hoje, “Instituto Nacional de Educação de Surdos”– INES, no dia 26 de setembro.
O dia do surdo é comemorado no dia 26 de setembro, homenagem à inauguração da primeira escola de surdos do Brasil em 1857, o INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos).
INES - Instituto Nacional de Educação de Surdos.
Em 1875, um ex-aluno do INES, Flausino José da Gama, aos 18 anos, publicou “Iconografia dos Signaes dos Surdos-Mudos”, o primeiro dicionário de língua de sinais no Brasil.

Em 1880, surgiu o Congresso Internacional de Surdo-Mudez, em Milão – Itália, onde o método oral foi votado o mais adequado a ser adotado pelas escolas de surdos e a língua de sinais foi proibida oficialmente alegando que a mesma destruía a capacidade da fala dos surdos, também argumentando que os surdos são “preguiçosos” para falar, preferindo a usar a língua de sinais. Na ocasião de votação, durante a assembléia geral realizada no congresso, todos os professores surdos foram proibidos de votar e excluídos. Dos 164 representantes presentes ouvintes, apenas 5 dos Estados Unidos votaram contra o oralismo puro.
Skliar aponta (1998, p. 16):
Ainda que seja uma tradição mencionar seu caráter decisivo, o Congresso de Milão, de 1880 – onde os diretores das escolas para surdos mais renomadas da Europa propuseram acabar com o gestualismo e dar espaço à palavra pura e viva, à palavra falada – não foi a primeira oportunidade em que se decidiram políticas e práticas similares. Essa decisão já era aceita em grande parte no mundo inteiro.
Outro fato histórico que merece destaque é a história de vida de Helen Keller, que proporcionou a ampliação de conhecimento sobre a educação de criança surdas e cegas (surdocegueira).
Helen Keller ficou surda e cega aos 2 anos de idade em conseqüência de febre alta. Ela se tornou uma menina revoltada. Destruía tudo o que lhe caia às mãos, recusava-se a comer direito e a deixar-se vestir, pentear e lavar. Então os pais, desesperados, procuraram ajuda e foi-lhes indicada a professora especializada que se tornou muito importante na vida de Helen: Anne Sullivan.
Helen Keller obteve graus universitários e publicou trabalhos autobiográficos e artigos diversos. Ela lutou para difundir os métodos de ensino aos surdos-cegos e pela aceitação das pessoas como ela pela sociedade. Assim sua corajosa conquista serviu de exemplo e inspiração aos surdos-cegos!

Filme: “O Milagre de Anne Sulllivan”.
É um filme feito em 1962, do gênero drama, dirigido por Arthur Penn, baseado em história real que relata sobre a incansável tarefa de Anne Sullivan (Anne Bancroft), uma professora, que tenta fazer com que Helen Keller (Patty Duke), uma garota cega e surda, se adapte e entenda (pelo menos em parte) as coisas que a cercam.

Alguns momentos históricos no Brasil:
1977 - FENEIDA (Federação Nacional de Educação e Integração dos Deficientes Auditivos).
1987 - FENEIS (Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos) no Rio de Janeiro – Brasil, sendo que a mesma foi reestruturada da antiga ex-FENEIDA. http://www.feneis.org.br
1994 - Foi fundada a CBDS, Confederação Brasileira de desportos de Surdos, em São Paulo – Brasil.
1996 - Lei Municipal N° 7.857 (30/09/1996) – Porto Alegre. A Câmara Municipal de Porto Alegre aprovou a lei e a língua de sinais oficializada.
1999 - Lei Estadual N° 11.405 (31/12/1999) – Rio Grande do Sul. O governo do Estado do Rio Grande do Sul aprovou essa lei que reconhece a Libras como meio de comunicação para os surdos.
2002 - Lei Federal N° 10.436 (24/04/2002) – Brasil. Essa lei oficializou a Libras no Brasil.
2002 - Formação de agentes multiplicadores para o ensino de Libras em Contexto, MEC/Feneis.
2006 – Curso de Graduação em Letras/libras, com a coordenação da Universidade Federal de Santa Catarina e com a participação de 9 (nove) pólos, situados em diferentes estados brasileiros. http://www.libras.ufsc.br  
2008 – Curso de graduação em Letras/Libras, licenciatura e bacharelado, coordenado pela Universidade Federal de Santa Catarina, sendo a UFRGS em Porto Alegre, um dos pólos. No total há 15 pólos, em diferentes cidades brasileiras. http://www.libras.ufsc.br
A importância do conhecimento histórico

- Quem são eles?
- De onde vieram?
- Como a Comunidade Surda começou a existir?
- Quais as transformações pelas quais passou para chegar ao que é hoje?

As raízes da história de educação de surdos
Os sujeitos surdos eram rejeitados pela sociedade;
Os surdos não podiam casar;
Os surdos eram considerados inferiores;
Isolados nos asilos para que pudessem ser protegidos;
Viam os surdos como “anormais” ou “doentes”;
Poucos reconheciam os sujeitos surdos como cidadãos.
Na educação de surdos, em geral, prevalece dois grandes modelos: o clínico e o sócio-antropológico. O modelo clínico enfatiza as práticas discursivas e os dispositivos pedagógicos da patologia e da deficiência, propondo terapias para o desenvolvimento da fala e a cura da surdez. O modelo sócio antropológico opõe-se ao modelo clínico e enfatiza a cultura surda, língua de sinas e a comunidade surda. Skliar (1998, p. 9) alerta para uma relação não-dicotômica entre esses modelos que representam os surdos como deficientes ou como minoria lingüística.
[...] à habitual oposição entre modelos clínicos e antropológicos, o objetivo deste trabalho é diferente. Trata-se de identificar os matizes, os espaços vazios, os interstícios, os territórios intermediários que não estão presentes nesses modelos, mas que transitam, flutuam entre eles como, por exemplo, as significações lingüísticas, históricas, políticas e pedagógicas.
Há muito tempo, ser surdo era enfrentar grandes batalhas, defendendo sua língua, sua comunidade, seus direitos e sua identidade. Alcançar esses conhecimentos no momento atual, significa uma grande conquista, no mundo pós-moderno, em que os surdos estão situados em outros tempos, outros espaços, com outros desafios.
O Estudo da história de surdos pode ser uma fonte de prazer, isto porque desperta a nossa curiosidade, não é mesmo?



Por: Paulo Henrique 

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